Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2004
Quero-te
Quero-te... apesar de cada vez que me olhas me fazeres sentir pequeno. Quero-te... apesar de querer-te seja a minha destruição. Quero-te... apesar de cada beijo que me dás seja mentira. Quero-te...porque quando as tuas mãos me tocam posso esquecer que quando te vais é com ele, é a ele que amas e só estás comigo porque te faço sentir um Deus.
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2004
Quem?
Quem puderá eternizar-se nesse exacto instante em que o coração se incendeia num olhar? Quando o grito infinito dos corpos desenha o destino dos beijos e define a arte das carícias. Quando os impulsos desbaratam as razões. Quem puderá eternizar-se quando a paixão arranca inconscientes gemidos? Quando o perfume do prazer serpenteia furioso ate o orgasmo. Quando a força da sensualidade nos torna imateriais e voamos . Nesse instante... nesse exacto instante ... quem pudera. Perco-me na minha viagem eterna. O único que levo é o passado. Recordações esquecidas por ti. Tento, prometo que amanha já não te quererei e quando sair na minha estação não haverá bagagens nem sequer existira o bilhete.
Dispo-me
Dispo-me e deito-me sobre ti como ultimo hospede. Como um tempo passado, uma lembrança vaga, uma saída planejada. O meu corpo dorme e habita nas tuas mãos. Sobre a memória da minha pele persiste ainda a memória das tuas mãos a devassar inconfessáveis anseios, gemidos que ferem o perfeito silencio. A tua presença pressentida desarruma a rotina.
Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2004
Absurdo
Tornarmo-nos esfinges, ainda que falsas, até chegarmos ao ponto de já não sabermos quem somos. Porque, de resto, nós o que somos é esfinges falsas e não sabemos o que somos realmente. O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios. O absurdo é o divino. Estabelecer teorias, pensando-as paciente e honestamente, só para depois agirmos contra elas - agirmos e justificar as nossas acções com teorias que as condenam. Talhar um caminho na vida, e em seguida agir contrariamente a seguir por esse caminho. Ter todos os gestos e todas as atitudes de qualquer coisa que nem somos, nem pretendemos ser, nem pretendemos ser tomados como sendo. Comprar livros para não os ler; ir a concertos nem para ouvir a música riem para ver quem lá está; dar longos passeios por estar farto de andar e ir passar dias no campo só porque o campo nos aborrece.
Bernardo Soares in, Livro do Desassossego
Sigur Rós ( )
O principio e o fim. O céu e o inferno. A beleza e a violência. O amor e o ódio. O prazer e a dor. A vida e a morte. A esperança e a desilusão. Demasiados choques de conceitos para 71 minutos. Mistura de sentimentos bizarros . É assim ( ) a terceira produção dos Sigur Rós, quarteto islandês com oito anos de existência e pouca fama no resto do mundo se tivermos em conta outros compatriotas como Björk ou os quase mortos Gus Gus. ( ) é uma nova experiência nunca antes vista na historia da musica. Para começar o titulo é nomeado de diferentes formas por diferentes pessoas. Os temas não tem nome e as melodias são cantadas em Hopelandic, um idioma sem gramática nem ambições inventado por Jón Þór Birgisson conhecido como Jónsi a voz, a guitarra e, em grande parte, a alma de Sigur Rós. Jónsi pensa que tudo o que viveu o influencia na hora de aportar a intensidade emocional que desprende o som do grupo: a sua adolescência solitária, o ser gay e a sua forma particular de olhar o mundo "Nasci assim, nunca vi com os dois olhos. Mas gosto. Acho que se pudesse ver em estéreo, ficaria louco". O album tem mais conteúdo do que aparenta ter. Muitíssimo mais. O som de um click precede o Track 1, o órgão recorda-nos levemente "Everything in its Right Place" dos Radiohead. Depois de um lento desenvolvimento aos 02:24 somos presenteados com as primeiras vocais de Jónsi. Ásperas como uma lixa, mas claras como o mais virgem dos lagos. A melodia continua quase sem mudanças com algumas cordas proporcionadas pelo trio Amina, que já são quase parte dos Sigur Rós. O final é glorioso com vozes agudas e perfurantes. Com um soluço de sirenes somos levados o Track 2. Depois do primeiro golpe de batería a voz de Jónsi só nos aparece dois minutos depois pouco a pouco a aflição converte-se em tranquilidade até chegar o track 3. Um oásis no deserto da melancolia. Um lacónico opus de piano, que se repete varias vezes durante seis minutos hipnotizando de tal forma que a qualquer momento podemos começar a chorar sem consolo, ter um ataque incontrolado de riso ou cair no mais profundo e doce dos sonhos. Não passa muito tempo e começa o Track 4. Um hino de esperança. O clímax começa ao chegar a caixa musical de Kjartan Sveinsson que toca uma peça infantil que nos cobra um suspiro. O tema acaba com Jónsi a capela, de una forma tão serena e natural que parece estar a cantar-nos o ouvido. Um silencio de mais de meio minuto leva-nos a sentar os pés na terra depois do primeiro transe e prepara-nos para o segundo. Apesar do 5 ser o numero da vida , este Track parece ser o tema da morte. Uma triste opera que nos leva até o Track 6 que começa lento para chegar o epilogo quase solene na guitarra de Jónsi que vai seguindo até que uma distorção nos introduz no Track 7 coberto por uma aura fúnebre. A voz de Jónsi apresenta-se quebrada, o tema sobe e desce varias vezes, Jónsi a bordo do pranto grita até quase ficar rouco e completamente só. E se tudo isto parece demasiado então o melhor é esperar o Track 8. No começo normal e tranquilo um leve toque de guitarra, um arco de violino, percussões que nos lembra uma chuva sincronizada de cometas, uma voz sem distorções nem tons agudos. Uma musica sedativa sem novidades a superfície mas com um enorme segredo na sua profundidade que espera poder emergir. E o melhor momento é o silencio quando unicamente se escuta o miar de Jónsi e um toque Placebesco de Georg. A besta possui Orri. Os golpes da bateria são mais rápidos, mais fortes. Quase ensurdecedores. Até chegar a grande explosão que terá um final abrupto e acaba com o mesmo "click" do principio. ( ) é um álbum bastante recomendado, provavelmente o melhor de 2002. Funciona como um incrível sedativo para a tenção e o cansaço. Tudo é tão magico, bonito e cósmico. É como introduzir-nos numa igreja vazia e ficar ali calados em silencio. Tudo está bem quando se escuta ( ), vontade de cerrar os olhos para sempre e sentir aquela coisa que Sigur Rós nos produz, um golpe profundo no mais profundo do cérebro e porque não no coração.
Penso nas voltas da vida
Penso nas voltas da minha vida, nas promessas de eternidade que nunca se cumprem. Penso nas relações que se juram sólidas e ao cair do calendário acabam. Penso na vida que se vai num suspiro. Penso nos dias que me levanto com a alma reduzida e me deito com a sensação de felicidade (ou vice versa). Com o passar do tempo reafirmo-me nas palavras de Heraclito: "nada é eterno, excepto a mudança, assim nunca nos banhamos nas mesmas águas, no mesmo rio". Eu sou eu e as minhas circunstancias e é conforme a elas que eu vou forjando a minha vida. Com a minha forma de ver as coisas, a vida flutua como o rio que falava Heraclito. Flutuam as emoções que vão mudando. Houve um tempo em que sabia que a minha vida ia ser especial, distinta. Ideais, valores superiores, razões para lutar. Hoje vejo-me preso na monotonia, na cor cinza, na existência com uma única razão a de lutar por mim mesmo sem grande firmeza. No fundo vivo longe do mundo submergido na deliciosa melancolia.
Domingo, 15 de Fevereiro de 2004
RadioHead

The Karma Police arrested me for being a Paranoid Android, only cause i talk in math and say "2 + 2 = 5", when i was in the jail, under a Church, the Morning Bells always wakes me up, every morning. my cellmate was Creep that always Sings the National Anthem, and a Underground Homesick Alien that love his cd of a Motion Picture Soundtrack. i was reading the guide about "how to Dissapear Completely" writed by some guy named Lewis, then i started feel like we were Packt Like Sardines In A Crushed Tin Box in that cell. then i fall sleep and i dreamed that the jail have a Pull/Pulk Revolving Door in the entrance, then i ran to the door and get out of there, there was an Exit Music,with weird guitar solos, and i thought, "hey, Anyone can Play Guitar", so i finnally get out and i was absoulutly Amnesiac and Optimistic at the same time, i feld like i where In Limbo, with only a few Dollars and Cents, and i was really High and Dry in there, the place haved an Permanent Daylight. i walk around and i saw a kid, he told me his name was "Kid A", and i ask him where i can found an Idioteque, i said to me "you must be The Tourist, you should go There There over there is the Myxomathosis that will guide you there", i listen to him and i get to a big wall, when i was Climbing Up the Walls i saw a Fake Plastic Tree, when i reach it he talked to me and said " You must know how is the Life in a Glass House, could you explain to me how it is?" i saw him and i told him that he should know that Everything is in the Right Place, and he doesnt need to know that for survive. when i reach the top of the wallls, i saw a Black Star in the sky, adn speak to me, it said "How do You?" and i said, doing it, i need to Sail to the Moon, and i need your help, Just that. he told me to sing the Pyramid Song, and i did.. so he just walk away and told me. "search for the Street Spirit". i ask him where was that, and he said "where i End and you Begin".... I Might be Wrong... but that is were there is No Surprises. i need to go to the street with The Bends. i get there and i woke up.... i was in the cell again, it was just a Nice Dream, Stop Whispering i shout... somebody was whispering something. then they set me free. i get to the street, and i pull my Knifes Out and chop some Vegetables, and i eat it.
Michael Cunnigham in, Uma casa no fim do mundo
Ficámos deitados, mergulhados num silêncio incómodo, à espera daquilo que se seguiria. Nesse momento não éramos amigos nem amantes. Fora da esfera do sexo, não tínhamos verdadeiro acesso um ao outro. Sentia o peso da infelicidade de Erich tal como um mergulhador sente o peso do oceano, mas não podia ajudá-lo. Era esse o preço a pagar por termos dormido juntos antes de nos conhecermos - partilhávamos uma intimidade desprovida de conhecimento ou afecto.
Sábado, 14 de Fevereiro de 2004
The Hours
Filme delicado como uma poesia, forte e real como um vendaval. Cada objecto, cada peça de cena, cada fala, cada olhar um significado, uma estrofe. Interpretações divinas. Com o sofrimento os ponteiros arrastam-se de forma pesada como se quisessem prolongar a dor. Nestes momentos, as horas transformam-se numa eterna tortura, um martírio sem fim. Três épocas diferentes, três mulheres, duas características em comum: a dor e uma curiosa ligação com o romance Sra. Dalloway. Sem explicar os motivos por trás do sofrimento das três mulheres concentramo-nos na forma como estas tentam lidar com a dor. O filme flúi com uma elegância extrema, permite que uma cena situada em determinada época tenha continuidade, através dos gestos das personagens ou dos movimentos de câmara, em outro período de tempo. Além disso, há uma série de repetições temáticas que ligam as três narrativas. Três épocas, três beijos entre duas mulheres a diferença reside apenas na motivação de cada um: um beijo actua como oferta de conforto; outro funciona como pedido de consolo; e o terceiro simboliza um gesto de agradecimento. Filme de clima geralmente sombrio, em parte porque as manifestações de sofrimento e suicídio são mais perturbadoras quando são representadas fisicamente. Até que ponto vale a pena continuar a viver? Igualdade entre estar vivo e não estar. Não é em vão que o filme começa e acaba com a representação do suicídio de Virginia Woolf, que ocorreu em 1941. Assim como a própria escritora diz no filme que o seu romance Mrs. Dalloway tem que ter uma morte, As Horas lida com o fantasma do fim, da morte, do vazio e do suicídio como realidades inevitáveis num mundo incapaz de dar felicidade aos que nele vivem. As Horas é um filme sensível que compreende a dor da depressão. Enfrentar as horas uma batalha que se torna mais difícil com o passar do tempo.



"Tenho a sensação de que vou enlouquecer. Ouço vozes e não posso concentrar-me no trabalho. Lutei contra isto, mas não posso mais continuar a lutar. Devo-te toda a felicidade na vida. Tu foste perfeitamente bom. Não posso continuar a estragar a tua vida". "Não se encontra a paz fugindo a vida". "Eu luto sozinha contra a escuridão, na mais profunda escuridão, e só eu sei o que isso significa. Só eu posso entender a minha condição. Vives sob a ameaça da minha extinção. Eu também vivo sob esta ameaça". Olhar a vida de frente, olhá-la sempre de frente, e saber como ela é. Finalmente... sabê-lo. E amá-la pelo que ela é, e depois... Pô-la de lado. Entre nós sempre os anos. Os anos sempre. Sempre... o amor. Sempre... as horas.
Virginia Woolf
Oscar Wilde in, O Retrato de Dorian Gray
" Porque considero que influir sobre uma pessoa é transmitir-lhe um pouco da sua própria alma; esta pessoa deixa de pensar por si mesma, deixa de sentir as suas paixões naturais. Suas virtudes não são mais suas. Seus pecados, se houver qualquer coisa semelhante a pecados, serão emprestados. Ela tornar-se-á eco de uma música estranha, autora de uma peça que não se compôs para ela. O fim da vida é o desenvolvimento da personalidade. Realizar a sua própria natureza - eis o que todos procuramos fazer. Os homens hoje, amedrontam-se deles mesmos. Esqueceram-se dos maiores de todos os deveres, do dever que cada um deve a si próprio. Naturalmente são caridosos. Nutrem o pobre e vestem os andrajosos, mas deixam as suas almas famintas e andam nus. A coragem nos abandonou; é possível que nunca a possuíssemos! O terror da sociedade, que é a base de toda moral, o terror de Deus, que é o segredo da religião - eis as duas coisas que nos governam."