Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Domingo, 28 de Março de 2004
Sonho
"Deus deu ao pássaro as asas, mas em compensação deu ao ser humano a capacidade de sonhar". A leitura de um livro como Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, dá uma ideia mais concreta do sonho. No livro, Fernão experimenta todas as possibilidades do vôo com o seu par de asas até atingir a sublimação e o auto conhecimento. A personagem de Fernão é uma metáfora fabulosa da nossa capacidade de sonhar. Só quem sonha consegue sobrepor os seus limites e atingir a sublimação. Acredito no sonho como o caminho mais verdadeiro para a vivência de uma existência completa, intensa e inesquecível. Acredito no sonho como o combustível que alimenta as mais gigantescas utopias e a única possibilidade de realizá-las. Realizar os sonhos é tornar público quem somos e no que realmente acreditamos. É viver algo pelo qual realmente vale à pena.
Sábado, 27 de Março de 2004
Pássaro
Há um pássaro que habita em mim, um pássaro que se recusa a voar para a liberdade que lhe permito. Um pássaro que me pune com a presença, que me corroe as vísceras. Ordeno que voe, que me deixe, mas não. Não me obedece, não voa. Continua a ferir-me todos os dias, até que me renda. Mas não me rendo. Sou forte e resisto. Grita e tenta calar-me com asas castradoras de emoções. Sou a presa, ainda que caçador. Busco-me a mim mesmo dentro da ave que me habita. Dou-me a liberdade que não quero, e fujo de mim num voo rasante no mar dos sentimentos.
Gramática
Não entendo a tua gramática. Todos os erros de semântica possíveis foram cometidos por ti. Tu eras o meu sujeito. Os erros de concordância já eram extremos, o nosso pretérito era quase perfeito e teríamos um futuro do presente, não fosse a tua conjunção com essa terceira pessoa do singular. Não somos mais a primeira pessoa do plural, agora apenas eu, tu, vós. Tu eras o discurso directo dos meus sonhos, a cedilha da minha maçã, a hipérbole dos meus sentimentos. Dos adjectivos, os mais belos, dos pronomes, os subjectivos. Mas as antíteses do teu comportamento transformaram-se em metáforas. E num acto indefinido entre o ódio e a loucura, no indicativo de que já não se ama como outrora, de um imperativo afirmativo ecoou o grito. Assim acabou o nosso verbo de ligação: um hífen colocou-se entre nós, e deu-se a divisão silábica.
Sábado, 6 de Março de 2004
Pessoa
"O valor das coisas nao esta no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesqueciveis, coisas inexplicaveis e pessoas incomparaveis"
As Horas
Diz
Diz logo o que está a acontecer. Diz-me na cara. Diz. Não sei o que se passa na tua cabeça. Não sou burro. Diz o que queres de mim? É material? É emocional? É espiritual? Dou-te a minha alma se for preciso. Tudo o que quiseres mas não me faças sofrer. Não quero morrer, como posso morrer assim? Quero e mereço uma morte mais digna. Corri mil léguas para te encontrar, deitei tudo a perder por ti. Agora quantas mil décadas preciso para te esquecer?