Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Sexta-feira, 23 de Abril de 2004
Tornar a viver
Inês Pedrosa - Fazes-me falta
Só vivendo sobre a mudança se podia evitar a dor, só contornando a monstruosa perfeição do tempo se podia vencê-lo. Assim pensava, e enganei-me, porque o tempo não é pensável. Concentrei-me em deixar de ser para poder ser tudo, em esquecer para dominar a existência. Eu sou o tempo; sou nada, o nada veloz e imóvel que molda o corpo do tempo. Deixar de ser é ainda acatar as regras implacáveis do ser. Estou esgotado do correr contra a dor, contra a memória, contra a infância, contra o amor e o ódio. Criei uma meta de tranquilidade que se afasta tanto mais quanto mais corro para ele. Não há paz no instante, e eu vivo de instante para instante. Começo a temer que a paz se alimente do sangue da paixão de que abjurei.
Quarta-feira, 14 de Abril de 2004
Vergílio Ferreira - Pensar
Donde sou? Sou do meu tempo, bem o sei, ou bem o quero saber, porque não é fácil assumirmo-nos com o tempo que nos aconteceu. Mas de vez em quando, ha um aceno invisível e perceptível apenas no modo de haver uma perturbação no ar, sinto que sou de outro tempo, de outro destino, de outro signo de outra pessoa. Que outro tempo? Não sei. Não deve ser mesmo tempo nenhum. Deve ser apenas localizável onde não esteja bem e me pergunte donde sou. Donde sou?
Mata-me os dias
Lágrimas que deixaram de ser sentidas.
O mundo descai-te das mãos e queres sentir mas já não sabes como.
Leva-me contigo para a morte!
Deixa-me amar-te pelo vazio, pelo frio. Deixa-me sentir-te, no Nada que agarro!
Existe algures em mim, um rosto que é partilhado pela vida que não respiro. O outro é cicatrizado pelas mágoas que alguém deixou. Chora interminavelmente pelo sorriso que lhe foi negado. Quisera eu sentir através de algumas destas caras. O meu espelho é o Vazio. Nem branco nem negro. Incolor...
O destino acorrentou-me à espera. Morro aqui, onde os gritos desesperantes de outros ecoam no Vazio da Solidão.
- Acaba-me o sofrimento, perde-me na espera.
- Sufoca-me os sonhos, mata-me os dias.
Terça-feira, 13 de Abril de 2004
Lutas
Segunda-feira, 12 de Abril de 2004
Ficamos
Ficamos surpreendidos porque acreditávamos estar esquecidos. Por um momento há sempre algo que necessita de nós. Escutar velhas canções, recordar alguns momentos e nessa hora chega a visita da tristeza e melancolia. Vem as interrogações: o que realmente aconteceu? Penso quem sabe se um não tivesse o coração cobarde e a mais nada sei responder.
Domingo, 11 de Abril de 2004
Usado
Usado, abusado, acusado, injustiçado, traido, enganado, ferido, magoado, revoltado é como me sinto. Um dia e não muito distante o tempo vai mostrar quem realmente perdeu. A vida magoa os bons. Dar tudo acaba por ser uma forma de ensinamento para ver que sou único e ninguem merece a minha perda de tempo.
Sábado, 10 de Abril de 2004
Se
Se podes manter a cabeça no lugar quando os outros perderam a sua e estão a culpar-te.
Se confias em ti quando os outros duvidam.
Se esperas e não te cansas de esperar e não te entregas ao ódio.
Se consegues suportar que a verdade que sempre usas-te seja distorcida pelos outros.
Se consegues ver como morrem todas as coisas pelas quais deste a vida e te inclinas para refazer tudo ainda que as ferramentas estejam gastas.
És um sobrevivente e suportas tudo.
Olhos
Inventei uma nova linguagem: os meus olhos. Os olhos não me servem mais do que para olhar. Hoje tudo o que digo com os olhos é o que ontem compreendia com a mente. Hoje penso com os olhos. O desconcerto, a pena, o cansaço, o desamor, o furor hoje convertem-se em olhares que se distanciam de outros olhares e ensinam-me o que devo aprender. Os olhos sublinham tudo o que acontece e os livros são agora o branco, o branco que envolve tudo, menos os olhos. Com os olhos vejo o perigo. Transportam a mente que já não tem pensamentos e tudo o que não desperte os meus olhos não existe. Não fico preso em nada que não seja detectado pelos olhos. Careço de outra linguagem. São os meus olhos a minha nova linguagem e falam por mim e é com os meus olhos que contarei a minha história. Vou viver agora de olhos mais abertos acreditar somente no visível para que a desilusão não mais me alcance.
Quinta-feira, 8 de Abril de 2004
Quero
Quero ir embora de mim... Virar pó... Deixar de ser... Ser nada...