Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Quinta-feira, 20 de Maio de 2004
"Amor"
"Às vezes, penso que é impossível que entendas completamente aquilo que sinto. A culpa não é tua. Não existe culpa. As palavras que tenho são muito insuficientes, são muito imperfeitas."
"Nós somos feitos de tantas coisas impossíveis, tantas coisa de que duvidámos, tantas coisas que verdadeiramente acreditámos impossíveis, com todas as certezas, com todas as dúvidas. Nós somos impossíveis e, no entanto, somos possíveis. Estamos aqui. É isto que não sei como dizer-te. É isto que não sei se entendes completamente".
"Olho-te nos olhos e basta-me a verdade desta palavra ... basta-me a verdade do teu nome ...".
"- Abraça-me. Abraça-me com força. E quando já não estiver aqui, abraça o mundo. Estarás a abraçar-me, esteja aonde estiver."
José Luís Peixoto
Domingo, 16 de Maio de 2004
Magnificat
Quando é que passará esta noite interna, o
universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que dispertarei de estar accordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossivel de fitar.
As estrellas pestanejam frio,
Impossiveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossivel de escutar.
Quando é que passará este drama sem theatro,
Ou este theatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida,
Quem tens lá no fundo?
É Esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu accordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma: será dia!
Álvaro de Campos
Esfumas-te...
Esfumas-te numa sombra que dá lugar à manhã. E eu agarro-me a esse vulto que se faz parede, para derramar um último abraço, um derradeiro beijo sentido. Mas este beijo voa sem te encontrar, num quarto onde já não pertences, onde repouso só numa manhã que de tão luzida não permite uma sombra de ti. E por lá fico escutando uma melodia que não é mais do que a ressonância de nós na minha voz. E é manhã, sem ti.
Quinta-feira, 13 de Maio de 2004
Ainda assim...
Ainda que o meu sangue envenenes com indiferença do teu olhar.
Ainda que envelheças a minha pele quando o teu silencio me retira a voz
Ainda que me rasgues a carne na acidez das tuas negações.
Ainda assim em ti não morro de cansaço.
Segredo
Segreda-me a canção dos dias
Sem que nos ouça a noite terrível.
E deixa que dance em mim a voz,
A voz azul que é o lugar
De onde o mundo não pára de nascer.
Segreda-me o teu nome agora
E farei de nós o amor,
A constelação,
O sonho de estação sem norte.
Rilke
Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior. caminhar em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém - é a isto que é preciso chegar.
Quarta-feira, 12 de Maio de 2004
?
Há quilómetros de vazio entre nós...
De que cor é pintado o céu do teu quarto?!
A que cheiram os livros na tua estante?!
Como são os fantasmas do teu armário?!
Que idade tem as sombras nessa parede?!
Visto daqui tudo parece mais triste...
In, O canto do vento nos ciprestes.
"Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti. Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis que alagamos de beijos quando eram outras horas nos relógios do mundo e não havia ainda quem soubesse de nós; e leva-o depois para junto do mar, onde possa ser apenas mais um poema - como esses que eu escrevia assim que a madrugada se encostava aos vidros e eu tinha medo de me deitar só com a tua sombra. Deixa que nos meus braços pousem então as aves (que, como eu, trazem entre as penas a saudade de um verão carregado de paixões). E planta à minha volta uma fiada de rosas brancas que chamem pelas abelhas, e um cordão de arvores que perfurem a noite - porque a morte deve ser clara como o sal na bainha das ondas, e a cegueira sempre me assustou (e eu já ceguei de amor, mas não contes a ninguém que foi por ti). Quando eu morrer, deixa-me a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos como pequenos foram sempre os meus ódios; e que depois os lanças na solidão de um arquipélago e partes sem olhar para trás nenhuma vez: se alguém os vir de longe brilhando na poeira, cuidara que são flores que o vento despiu, estrelas que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor."
Segunda-feira, 10 de Maio de 2004
Compreendes?
Compreendes o que sinto?
Compreendes o que sinto quando abandono todas as palavras por nós devoradas em noites de uma luz semicerrada?
Compreendes o que sinto quando te busco incessantemente na cama inerte que jaz deserta de ti?
Compreendes o que sinto quando rego em vão as flores que murcharam no dia que partiste?
Compreendes o que sinto quando dou por mim sem ser mais do que uma personagem numa peça de teatros vazios?
Compreendes o que sinto quando és frase solta que deambula em páginas esvoaçantes de um livro que para mim se torna impossível ler?
Compreendes o que sinto quando o meu ecoar sou eu sem ti?
Compreendes?
Domingo, 9 de Maio de 2004
Poder fintar
Faço-te vulto de mim com a firme esperança de te poder fintar, esquecendo-te numa qualquer esquina do meu ser.