Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Domingo, 29 de Maio de 2005
...
Não gosto de gente homofóbica.
Irrita-me a presunção
De quem quer impor o que acha certo ou errado
A um corpo que não o seu.
De quem pensa que honestidade,
Ética e verticalidade
Está na sexualidade
E define como pessoa.
Não é gente séria
Quem o outro condena só porque ama
De uma forma que acha estranha e diferente.
Quem acha que é doença
Quando o amor é diferença
E não conforme aquilo que pensa.
Em vez de dizerem tanto disparate
E de pregarem uma moralidade
Que me cheira sempre a sacristia
Deviam de boca calada
Dar uma queca bem dada
Porque, disparate tem limite
E amor é liberdade.
Sábado, 14 de Maio de 2005
Lua Nova in Lunário
Nému dormia, uma mão metida entre a cara e a almofada, nu, viajando pelo desmesurado espaço dalgum sonho de onde, certamente, Beno fora excluído. E, por instantes, este sentiu ciúmes por não poder estar dentro do sonho de Nému.
Mas com o decorrer dos meses, Beno viria a aprender que é muito difícil dormir com alguém, ser cúmplice desse abandono, dessa ausência a dois, do que fornicar.
E ambos foram aprendendo a dormir um com o outro, e Beno deixara de ter ciúmes dos sonhos de Nému.
«Fornicar - pensava Beno -, fornica-se com quem quer que seja» ou quem seduzimos e desejamos. Mas dormir, dormir é muito mais complicado, leva tempo até se perder o medo de se entregar o corpo, assim...ao outro. E a lassidão dos corpos abandonados aos segredos do sono um do outro...é bela!»
Frequentemente, contudo, a insónia dominava Beno com violência. Permanecia acordado, fumando na semi-obscuridade do quarto, vendo Nému dormir, acariciando-lhe o cabelo. Perguntava-se como é que tudo terminaria, e que razão profunda, enigmática, trouxera Nému à sua vida. E perdia-se em cogitações, até que o cansaço o atordoava e também ele adormecia. Outras vezes, era Nému que não conseguia dormir. Abraçavam-se, as pernas enlaçadas, os sexos juntos, e enquanto um dormitava, o outro mantinha-se vigilante, esperando sabe-se lá que desastres...
al berto
Domingo, 8 de Maio de 2005
Intenção ou propósito
De repente, percebo que só pertenço aos sítios onde não estou e que só me entrego a quem não está. Percebo que troquei um futuro mais que perfeito por um presente indicativo mas não percebo quanto de tudo isso foi destino e quanto de tudo foi intenção ou propósito.
Esta noite aperta-me e dobra-me. Faz sombras chinesas com o meu corpo.