Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Domingo, 25 de Setembro de 2005
Sempre...
Sempre que pareço talhado para uma nova paixão, apareces tu, como uma folha de papel reciclado, de novo em mim, num cruzar de olhos que tento abandonar, mas que sinto ser difícil. Sinto que me passeias no olhar, porque na epiderme da noite os sentidos são mais voláteis.
Consulto os ponteiros do meu tempo e encurto o passo para que não esperem por mim. Olho sobre o ombro na esperança de que ainda aí estejas, transeunte apaixonado, ou talvez não.
Mas tu já te perdeste uns passos atrás, não me acompanhaste, talvez porque ninguém te espera.
Agarro-me ao silêncio de um quarto de hotel onde cai a noite.
No silêncio abrigo-me das palavras rasgadas nas paredes de outros quartos, ergo-me numa sombra sinuosa que te desenha em cada suspiro que sou.
Sábado, 17 de Setembro de 2005
Vou levar-te...
Vou Levar-te a ver o mundo nos meus olhos.
Sexta-feira, 9 de Setembro de 2005
Momentos
Falo comigo, desabafo-me em pensamentos incertos. Saboreio uma contradança de sentidos digo presente ao futuro. Perco-me em fragmentos televisivos vazios de tudo e cheios de nada deixando-me levar pela força aparente das imagens e do zapping gratuito. Procuro num jornal de ontem e baralho-me. Penso em cartas que não te enviei e que ficaram apenas escritas na minha memória. Faço-me ausente para te sentir mais longe. brisa na palma da tua mão sem pretender ser algo definitivo, sem querer que a cerres e me eternizes no seu interior. São estes momentos assim em que me apetece atirar ao ar todas as letras que me ensinaste um dia a amar.
Segunda-feira, 5 de Setembro de 2005
David Mourão-Ferreira
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos
E por vezes encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
Sexta-feira, 2 de Setembro de 2005
Nunca
Nunca pedi nada e de quase nada preciso.
Às vezes, as coisas aleijam... mais ou menos como as noites tristes deste lugar (há uma gaivota, de certeza só uma, que rasa os neons que inundam esta varanda). Não sei bem mas acho que tenho saudades do silêncio que ainda não me apareceu.