Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Domingo, 12 de Março de 2006
Hoje
Hoje podias contar-me aquela história outra vez. Aquela que fala do bosque encantado e das nuvens que sonham. Estou a precisar de dormir em paz... Vivo a revolta dos sentidos. Bebo as tuas palavras. Banho-me na realidade a que tudo se resume...
Antony and the Johnsons – Cripple and the starfish mp3
Sábado, 11 de Março de 2006
Os passos em volta
Hoje, nada sei de quem me amou ou ama. Nada me reparte no tempo. Abro-me à unidade da vida e amo o passado e o futuro com um só fervor: completo. A geografia não existe. Quem está longe e me ama ou possui um breve poema rabiscado nas costas de um envelope, ou quem me odeia está longe e apenas tem algumas palavras sem destinatário, nada poderá supor da minha lenta maturidade. Esses papéis pouco valem, e esses sentimentos (de amor e ódio). Vale quem sou. Ultrapasso as palavras escritas. O poema que agora escrevesse diria como estou pronto para morrer, referiria enfim a excelência do meu corpo urdido nas aventuras da solidão e da comunhão, e falaria de tudo quanto auxilia um homem no seu ofício a ferocidade dos outros, o apartamento, ou o seu amor que, ferido pela ignorância, se inclina para ele, para o seu trabalho, o desejo, a expectativa. Morrerei com a minha visão, o pressentido segredo das coisas. E é na morte que se principia a ver que o mundo é eterno.
Herberto Helder
Sexta-feira, 10 de Março de 2006
Nós

Nós
Fomos duas árvores castas
Não misturamos raízes.
Apenas enlaçamos
os ramos
e sonhamos juntos.
Quarta-feira, 8 de Março de 2006
Deter o tempo
Se o tempo me desse o contacto das tuas mãos e com elas pudesse mudar o firmamento. Se a distancia não existisse e a cada despertar tivesse o teu doce beijo. Somente ver-te dormir no meu peito em tranquilidade única e imperturbável. Se tão só ao abrir os meus olhos te visse a meu lado. Despir-te uma vez mais acalmar os nossos corpos e sentir essa magia que humedeceu cada poro da nossa pele. Voltar e deter o tempo, somente escutar o bater do teu coração. Abraçar o teu corpo capturado entre os meus braços e pedir a gritos para não te ires jamais. Ser teus olhos, expressão do teu rosto quando sorris. Ver como és vida. Vida que se fui entre os meus dedos longe da minha alma, longe das minhas mãos, das minhas carícias e beijos mas ainda assim tão próximo do meu coração. Se tudo isto não é amar, tudo isto que acelera a minha respiração, se nada disto é amar-te então pede-me as estrelas do céu tudo farei para te ter.
Damien Rice – Amie mp3
Eternamente...
Eternamente...
O que significa?
Sabes dizer-me o que é eterno?...
Será eterno o nascer do sol e o seu repousar?
Será eterno a sequência dos anos que vão passando?
Será eterno o vento?
Será eterno o mar?
Já sabemos que as estrelas e o seu brilho não o são...
Mas e o céu onde elas moram... é eterno?
Que mais posso eu chamar de eterno?
Os meus poemas?
Os meus pensamentos?
As minhas perguntas?
Os meus sentimentos?
Para mim... olhar para os teus olhos é eterno.
Amar o teu sorriso é eterno.
Pensar em ti é eterno!
Como posso eu não te amar eternamente?
Como posso eu eternamente duvidar?
Eternidade... o que é?
Cada minuto que passo longe de ti...
Cada batida do meu coração que tu não sentes no teu peito.
Cada sorriso que dás que não é para mim...
Assim sendo, eu não quero que a minha vida seja eterna.
Porque eterno é tudo o que não muda,
Tudo o que se conforma em ser como é...
Toda a gente sabe o que é eterno...
Toda a gente sente a sua eternidade.
Não posso esperar pelos segundos em que te poderei tocar,
Os segundos apenas em que serás meu...
A minha vida não passará de segundos... que serão eternos.
Os segundos que demorarão a chamar pelo teu nome...
Domingo, 5 de Março de 2006
Preciso de me viver

Colo os restos para conseguir ver-te para além do que trago molhado nos olhos. Passeio no meu jardim interior pleno de estátuas quebradas restos da pedra agradecendo-lhes as imagens esculpidas na rocha que podíamos ter sido. De noite acabo sempre assim, abraçado ao rosto. Desejei-te a morte do corpo para que continuasses a viver em mim. Todos os minutos são a tentativa da procura de um sopro que te impeça de partir ainda mais. Se hoje pudesse pedir-te algo, pedia para não me deixares esquecer-te. Não me deixes esquecer-nos. A simplicidade complicada de te fazer permanecer em pedaços, em bocadinhos que foi colando a mim. Como dizer que te preciso? Que preciso de me precisares? Quis saber-te a olhar-me numa discrição deliciosamente indiscreta assegurando-me de ti, mas as tuas palavras que há muito não escuto os teus sinais que há muito não sinto disseram-me estares longe para sempre. Quis apenas que o passado não te existisse como outrora quis que fossemos o presente. Que fosses o meu presente. Hoje é o passado de amanhã. Sem ti preciso de me encontrar desencontrando-me de mim. Preciso me redescobrir numa vida em que me excluíste. Hoje apenas preciso de me viver. E não sei como.
The Smiths – Asleep mp3
Quinta-feira, 2 de Março de 2006
Não é isto aquilo que sou

É preciso compreender que não escrevo senão as memórias. Mais do que as feridas, escrevo a memória da dor. As memórias de um amor. Uma despedida nunca assumida, um adeus que ficou em falta. Pequenas gotas de felicidade que ficaram congeladas no tempo. Desejo de matar este eterno tormento das coisas que ficaram por dizer. Desejo de encurtar a distancia. Sobreviver os silencios. Tu, para quem falo só existes no rosto que me olho do outro lado do espelho. Não serão já minhas as coisas que escrevo, talvez somente fragmentos que arranco à imagem viva do deserto que me habita. Não é isto aquilo que sou.
Quarta-feira, 1 de Março de 2006
Serás sempre
... para mim, serás sempre o príncipe, a criança que me mostrou as árvores...