Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Nelson (pela primeira vez escrevo o teu nome aqui) gostava que não fosses mais que uma mera casualidade e não esta evidencia obvia que ainda hoje me toma. Talvez a excepção que só comprova a regra, tinhas de existir para alem dos encontros, tinhas de continuar a existir para lá daqueles três meses como eu tinha de ser filho dos meus pais, cópia imperfeita da bondade e coração dos dois. Casualidade de um dia me sentar frente a um teclado como este e optar por entrar num chat. Produto de uma existência no local certo à hora certa, ou local errado na hora errada.
Mais uma vez estou a divagar, mais uma vez estou a repetir-me. Mais um texto maçador. Gostava de poder escrever algo mais leve sem esta carga negativa tão forte. A fadiga afecta-me as palavras e não existe dia que não faça outra coisa que não seja recordar-te. Não existem dias, minutos ou segundos que te equivalham. A tua ausência preenche-me a vida. Estou rendido as memórias que me atravessam. Interiormente procuro um pedaço de ti algo que me faça sentir-te pensar o que tens pensado. Sentido. Vivido.
Sinto falta do nosso tempo. Preciso do nosso tempo. Tenho saudades do pouco corpo que o meu corpo foi corpo quando o teu corpo caía sobre o meu e o meu corpo e o teu corpo formavam mais um corpo. Tenho saudades do contacto dos dois corpos que germinavam mais um corpo. Havia contacto, saliva, beijos, tacto; energia que se desfazia no corpo do outro impregnados de amor. Amor amor amor, muito e muito mais amor. Tenho saudades desse corpo, daquele corpo que se formava e que somava cada um dos nossos corpos. Sinto falta de dares o teu corpo para ser acolhido pelo meu corpo e brotar em nós um outro corpo. Tenho saudades desse terceiro corpo, produto de bem mais que a soma dos nossos corpos.
Sinto falta do tempo em que nos separávamos e regressavas a casa comigo no pensamento. Alturas em que passava a tarde sozinho escrevendo, esperando que fosse noite para de novo estar contigo. Para seres comigo. Para ser mais eu. Alturas que hoje nos ferem, por já não sermos as pessoas que éramos quando connosco estávamos.
The Gift - Fácil de entender.mp3