Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Sinto que sempre estive sentado na margem errada do rio, na margem errada da vida. No lado cinzento que pronuncia tempestade, linha do horizonte ponto onde o mar cinza se torna céu. Não há vontade de partir. Não há vontade de ficar. Um tecer de novos regressos. Vou fazendo horas. Metade da vida é uma perdulária expectativa. E tonta. E ansiosa. E inútil. Como quem se sentou numa gare de caminho-de-ferro, à espera de um comboio que não se sabe quando passará e qual o seu destino. Certeza está apenas no local de espera. E às vezes na própria espera. Se chego a concretizar a viagem, o lugar onde o comboio me levou, desilude-me. Isso, porém, não impede que tudo venha a repetir-se. Desperdiçar o instante real e concreto, mas que, como areia, se nos escapa das mãos, em favor de uma ilusória vez seguinte.