Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Daniel J. Skramesto- Olhos de cão
A noite afasta-se lá fora e no entanto ainda aqui me tem acordado. Sozinho, deitado, penso em ti. Sonho ainda, acordado. O mundo desperta lá fora e a luz aos poucos invade-me o quarto. Penso em ti que não sabes que és amado. Penso em mim que aqui me tenho acordado, cansado. Cansado de mim. O que quero eu de ti? Quero sentir-te, poder tocar-te. Ser dono de um corpo que não é meu. Eis o que eu quero. Aqui está, posto em palavras. Queria tocar-te. Tocar-te para além dos limites do mundo e saber-te. Saber-te todo. O que me impede? Impede-me tudo. Palavras, pessoas. Os putos que havia no liceu, estúpidos. Pais amorfos. Os teus ouvidos surdos... E este meu querer. Este meu desejo de saber, de devorar o mundo. Este meu querer que vai para além de tudo. Porque eu poderia tocar-te, mas ainda assim não seria na consciência. E nem talvez sabendo quem és saberia eu quem sou nem onde, como e de que vivem todas as pessoas. Que sei eu do mundo para além de mim? Quando desvias o olhar, não sei para onde olhas, tal como quem me vê não me vê a mim. Onde estás quando não estás aqui e onde estou eu quando não estou em mim?