Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Daniel Sampaio- Vagabundos de nós.
Envolvo-me e tenho prazer, fujo da confirmação que acaba de chegar, distancio-me e julgo que foi mais um acidente, um acaso de quem está só carente de amor. Uma semana depois procuro de novo. Um vazio cá dentro faz-me percorrer os lugares do costume e entrego-me uma vez mais. Quero atingir certezas no meu mundo de dúvidas.
Se tenho sexo com homens é porque sou gay. Por que razão não me aceito, por que motivo continuo à procura de algo que não encontro? E, no entanto, cresço a cada momento que passa. Já não sou o menino do jogo de elástico nem do vestido de noiva. Falo contigo, mãe, mas sobretudo converso comigo, dialogo com a parte de mim que durante anos fiz por esquecer. Os charros e o álcool são bons para isso. Põem-me em contacto com uma parte de mim que desconhecia, cá por dentro sinto uma raiva de animal ferido, acordo de manhã com vontade de partir coisas e adormeço cansado por noites de descontrolo e prazeres proibidos. (...)
Nas reuniões do movimento gay que passei a frequentar ouço relatos, bocados de vidas semelhantes à minha, vejo folhetos onde tudo parece simples. ... Um homem mais velho fala em coming-out, ri-se quando traduz por sair do armário, apetece gritar que é melhor deixar tudo escondido, de nada serve afirmar que a homossexualidade não é uma doença mas uma opção, onde esteve a alternativa no meu caso? Os fantasmas que desde criança me visitam todas as noites, as vozes cá dentro que sussurram és maricas desde que o corpo cresceu, as imagens de sexo com homens que preenchem os meus sonhos, tudo o que há tanto tempo me controla, pode ser parte de uma escolha? E, por estranho que pareça, é nestas reuniões de quinta-feira à noite que encontro alguma paz. Finalmente estou entre iguais, é bom ver que não estou só no mundo. Há mais homossexuais do que pensava, se calhar muita gente tem o mesmo problema que eu e apenas disfarça.
Mãe, como sabes tenho vinte e um anos acabados de fazer, passaram mais ou menos três meses depois daquela noite em que te falei do Francisco, tudo está calmo e vejo-te mais feliz. Deixa-me dizer uma coisa: nunca percebi porque criticavas o movimento. Devias ter percebido que me ajudaram a encontrar um caminho, foi naquelas noites de quinta-feira e nalguns fins-de-semana, em reuniões na província, que deixei de me odiar. Sabes, fiz amizade com rapazes angustiados como eu, conheci homens mais velhos de quem me tornei confidente e, acima de tudo, foi lá que conheci quem amo.
De Anónimo a 9 de Fevereiro de 2005 às 11:30
tem piada teres posto este artigo nesta altura. Tenho andado numa fase que não consigo prever o dia em que sairei do armário. Ando e desando. Queria zangar-me com algum pessoal e assumir; só que preciso ainda deles...
Por outro lado tenho já pessoas que me andam a gozar, uma vez que não assumo diante delas mas também o não escondo.
Como se não bastasse tenho andado em época de exames e as coisas têm sido muito complicadas nesse ponto em resultado do resto; sinto a minha vida a rebentar pelas costuras.
De qualquer forma nunca conseguiria assumir diante dos meus pais, o que não deixa de naõ constituir problema pois não moro com eles senão ao fim de semana e já têm uma idade avançada; não precisarão de saber, antes passarem o resto dos seus dias descansados.
Fica aqui um desabafo pois é coisa que tenho andado a precisar de fazer... danyel
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(mailto:)
De Anónimo a 9 de Fevereiro de 2005 às 11:30
tem piada teres posto este artigo nesta altura. Tenho andado numa fase que não consigo prever o dia em que sairei do armário. Ando e desando. Queria zangar-me com algum pessoal e assumir; só que preciso ainda deles...
Por outro lado tenho já pessoas que me andam a gozar, uma vez que não assumo diante delas mas também o não escondo.
Como se não bastasse tenho andado em época de exames e as coisas têm sido muito complicadas nesse ponto em resultado do resto; sinto a minha vida a rebentar pelas costuras.
De qualquer forma nunca conseguiria assumir diante dos meus pais, o que não deixa de naõ constituir problema pois não moro com eles senão ao fim de semana e já têm uma idade avançada; não precisarão de saber, antes passarem o resto dos seus dias descansados.
Fica aqui um desabafo pois é coisa que tenho andado a precisar de fazer...
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