Porque sabes que eu estou aqui.
Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Nesse mesmo instante, abriu as mãos e estendeu-as como se acabasse de regressar da sua própria morte. Sorriu, ao descobrir que a paixão seja ela qual for é efémera também, como ele, como o rapaz sem nome ali sentado, como a vida, e tem de ser partilhada como um dom - sem demora.
- Aqui tens as minhas mãos - disse lentamente - elas estão sujas de outros corpos e de noites sem felicidade, estão turvas porque ninguém as quer há muito tempo. Mas se as quiseres, mesmo assim, por pouco tempo que seja, pertencem-te.
- Como te chamas? Dás-me um cigarro?
- Chamo-me Beno. Queres lume? E tu como te chamas?
O rapaz acendeu o cigarro e depois disse:
-Vou guardar as tuas mãos na paixão que tenho por ti, mas não te posso revelar o meu nome, nem precisas de o saber. Chama-me o que quiseres, dá-me tu um nome para que possamos amarmo-nos. Aquele que tinha perdi-o no caminho até aqui. Pertencia a outra paixão, e já a esqueci. Dá-me tu um nome, para poder ficar contigo.
- Se assim o queres teremos as noites e os dias para nomear a nossa paixão.
- E vais dar-me um nome de planta, de objecto, ou de pássaro?
- Não sei, não sei ainda.
Calaram-se (...)
- Medo de viver? - sussurrou o rapaz.