Porque sabes que eu estou aqui. Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Terça-feira, 7 de Fevereiro de 2006
A raposa de Saint-Éxupery

Do alto da colina desenhada a raposa profere
o seu apprivoise-moi, mata-me o olhar, o pensamento,
mata-me por dentro, arranca de mim o respirar
de todos os azuis e o tempo anterior em que eu não soube.
Envenena os trigais com a tua ausência
e eu morrerei também se os habitares.
Seguir-te-ei no vermelho do deserto
onde as serpentes sonham e se escondem,
nas colinas amargas da cidade, no verde tardio
das marés. Não existo senão no fim do mundo,
não existo senão nesta cadência que soa pelo ar
e desce os montes e inunda com força a terra plana
até que nada exista. Não tenho coração
senão para que tu o apunhales e vires a lâmina para o sol
e digas, ei-lo, o escarlate inútil deste amor apprivoisé,
a imensa distância da paixão, o desprezo
da morte que apodrece.

Cresço de repente e sem traição.
E tudo começou pela tua ausência



publicado por SigurHead às 00:23
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2 comentários:
De Anónimo a 12 de Fevereiro de 2006 às 23:27
há algum tempo que não lia algo que me deixasse KO, como agora fiquei... um murro no estômago.Diogo
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(mailto:)


De Anónimo a 8 de Fevereiro de 2006 às 00:04
A raposa proferiu tudo isso?!?
A palavra "apprivoiser" tem uma conotação tão apelativa! Pungente, como "My sweet Prince"!
Texto caustico, com a desconstrução da doce mensagem da personagem de St-Exupéry...
A raposa apenas buscava um afecto imenso, não um vulgar punhal, ou serei eu q estou em dia desconstrutivo, emaranhado, inóspito?!?
Mt sensibilizada pela tua visita e gentil mensagem!
saudações_miosotis



y_lune
(http://fragmentosdanoitecomflores.blogspot.com/)
(mailto:y_lune@sapo.pt)


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