Porque sabes que eu estou aqui. Porque eu sei que me sabes ler no silêncio.
Segunda-feira, 5 de Abril de 2004
Fim
Apesar de ser difícil conviver com o mundo humano que suportamos todos os dias, e que, às vezes, rendem alguns encontros, é bem mais difícil, e quase sempre injusto, dizer adeus. Acabar com tudo é um grande paradoxo. Pois acabar é sempre começar de novo. E começar também é abandonar uma série de certezas que acumulamos no tempo que passamos a tentar entender o começo, digerir o meio e evitar o fim. Dizer adeus... sempre achei essa palavra carregada e evito-a, exageradamente, a todo custo, em qualquer situação. Mas há horas em que não há mais nada a dizer, senão adeus. Por mais dor, saudade, mágoa. Mas não quero dizer adeus, também não me digas, por favor. Todos passam, como tudo e isso é ao mesmo tempo triste e reconfortante. Mas vamos pensar que ainda é cedo, que isso é mais uma do tempo a rir de nós o tempo inteiro... Ainda devemos esperar para começar tudo outra vez, e viver numa série de começos sem fim. Quando penso nos teus olhos, tão singulares sinto medo de avançar e descobrir o que há por trás de tanta cor. Como aquela musica eterna de Jacques Brel " Je me cacherai là a te regarde sourire laisse-moi devenir l'ombre de ton ombre, l'ombre de ta main ne me quitte pás, ne quitte pás". É duro passar e ver o tempo a entrever os sonho e a anestesiar os desejos. Mas um simples olhar, ou melhor, um simples par de olhos, únicos, acesos num mundo escuro e repleto de desencontros, é capaz de mudar tudo. E por quê? Como devemos sentir-nos agora, quando já não sabemos mais sentir sozinhos? Nada importa, nada vai mudar, mas queria ver a luz dos teus olhos novamente e poder dizer que hoje amo-te mais do que ontem. Já não consigo mais suportar tantas luzes, a cidade abafa os meus sonhos, a claridade escurece o que vejo e já não posso mais ver e viver. Pedaços de imagens distorcidas, sombras, nuvens e tantos olhos: tortos, vesgos, escuros como o chão cinzento que tento esconder de ti. Os meus olhos já não são mais suficientes, preciso dos teus. Desvio o olhar de tudo e de todos, a minha vida está gasta de tantos desencontros. Só o que me pode guiar a partir de agora são os teus olhos, que não vou deixar de amar, pois são olhos doces, apesar de nada poder dar-te além da angústia de me veres eternamente exausto. Hoje, até escrever, é um esforço absurdo. E só não é maior do que ver, e ter que continuar a viver, às claras, às cegas. O que virá depois é um futuro embaçado, míope demais para mim. E escuros são os meus sentimentos. Não esqueças de fechar os meus olhos e deixar-me viver cercado de flores de plástico porque hoje sou apenas uma lápide emoldurada, presa na parede ao lado de outros tantos mármores velhos e empoeirados.


publicado por SigurHead às 20:58
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